quarta-feira, 11 de julho de 2012

Texto Inaugural



"... vivemos atolados na lameira, e no mesmo lodo, todos manuseados."
Raul Seixas


Falta do que fazer. Essa é a resposta da pergunta que você, leitor, está se fazendo nesse momento, não? Ok. Pretensão minha achar que sei o que estás se perguntando (se é que estás se perguntando algo). Afinal de contas, não tenho nenhuma bola de cristal... Mas, se estiveres pensando: porque ele se presta a escrever? Respondo-te. Escrevo pois acho interessante a ideia. Pessoas sem ter o que fazer lendo um blogue sem ter nada pra dizer. Pelo menos para estas pessoas estou sendo útil (ou não). De qualquer forma, alegro-me pelo fato de tentar dizer alguma coisa sobre algum assunto que não necessariamente interessa.

Este blogue é anárquico, já vou avisando. Como Raulzito já sugeria “todo homem tem direito de matar a quem quiser...há de ser tudo da lei”. Que sonho! Fazer o que quiser, pensar o que quiser, amar a quem quiser. Viajar pelo mundo sem passaporte, afinal de contas, o planeta é nosso!  É preciso ser gênio chegar a essas conclusões tão simplórias? É. Afinal, temos muito que fazer e se preocupar, como o que vou vestir na próxima festa (lembrei que preciso de um tênis novo. Aliás, a chuva me lembrou) ou quem fica e quem sai d´A Fazenda. Não sobra tempo pra ser gênio. Impossível pensar em algo diferente do que está aí. É assim e pronto. Pois é...

Apesar de o nome Carona com Caronte sugerir uma relação com mitologia, talvez os textos futuros nada tenham a ver com a mesma. Pode ser que apareçam músicas, poesias, contos, análises críticas... Análises críticas não. Enfim, não se pode esperar muito de um blogue anárquico, portanto, não se decepcione. Apenas critique, se for o caso. Se não for, critique também. E viva a anarquia democrática!

***

Pagar por conveniência. Quantas vezes eu já fiz isso. Ainda faço. Pagamos plano de saúde, para não ser perturbado por uma dor de barriga; pagamos seguro do carro, para não se preocupar com possíveis ladrões; pagamos seguro de vida... Há quem financie seu próprio funeral! Pagamos seguro até pra viajar de ônibus (quem nunca ouviu a célebre frase: com seguro ou sem seguro?). Será que somos, de alguma maneira, influenciados a agir dessa forma? Talvez essa resposta esteja guardada nas profundezas de um rio, junto a uma velha balsa, que outrora pertenceu a um barqueiro muito esperto.

A mitologia grega nos conta que antes de chegar ao Hades (deus do “mundo inferior”), os mortos pegam a balsa de Caronte (o barqueiro do inferno) para atravessar o rio Aqueronte (das dores). Caronte transporta os heróis, as crianças, os ricos e os pobres para o Hades propriamente dito. Porém, Caronte cobra moedas para fazer a passagem (quem diria, já naqueles tempos isso era um negócio). Era costume grego colocar uma moeda, chamada óbolo, sob a língua do cadáver, para pagar Caronte pela viagem. Se a alma não pudesse pagar, ficaria forçadamente na margem do Aqueronte para toda a eternidade, e os gregos temiam que pudesse regressar para perturbar os vivos.

Isso me faz pensar no seguinte (ainda tenho tempo pra isso): será mesmo que esse barqueiro tenha existido? (isso explicaria muita coisa...) Se não, quem será o gênio que teve a incrível ideia de inventar tal ritual? Quão deveria ser a capacidade manipuladora dessa pessoa para fazer de um conto algo concreto? Ele pensava a frente de sua época? Ou mais ainda: será que esse cara é um ancestral do Raul Seixas?

A ideia da vida pós a morte sempre permeou a mentalidade da nossa espécie. Desde que começamos com a idéia de que somos “seres superiores” (e isso faz tempo), precisamos ter essa certeza que a morte não é o fim (há quem diga que é o começo!). Afinal de contas, que superioridade seria essa. Somos imortais! Seja pegando uma carona com o balseiro das trevas, seja nos enrolando em faixas, seja queimando vivo em uma fogueira (mesmo que contra a nossa vontade) sempre damos um jeitinho de salvar nossa alma pecadora. Ai eu me pergunto novamente: ninguém nunca pensou que viver eternamente seja entediante?

Se chegamos a um ponto evolutivo que nos permitiu escolher entre morrer, como qualquer outro ser vivo (mas inferior) e ser imortal, e escolhemos ser imortal, penso que ainda estamos longe do nosso “nirvana intelectual”. Portanto, todos seres vivos inferiores (inclusive amebas e samambaias) são na verdade, superiores a nós, Homo sapiens sapiens, pois ao contrário de nós, eles morrem!

Logicamente não existe nenhum tipo de cientificidade nessa teoria de superioridade. Contudo, espero que entendam novamente que um blogue anárquico não tem objetivo nenhum, a não ser perder tempo (o meu, escrevendo, e o seu, lendo). Mais do que simples respostas, Carona com Caronte se apresenta no intuito de fazer uma espécie de travessia entre dois mundos: passado e presente, loucura e lucidez, bem e mal, certo e errado, luz e trevas, e todas as infinitas dualidades que o senso comum insiste em perpetuar. É o desafio de escrever sem ter que pagar nada que me moverá. Até que algum dia eu, finalmente, chegue ao outro lado do rio (se o barco não afundar antes, logicamente).


Em breve, mais anarquia, mitologia e Raulzito. Ou não.

2 comentários:

  1. Saudações, humano mediano!

    Bem vindo ao insano mundo dos que escrevem pelos banheiros da internet!

    ... e vamos navegar nessa banheira pra ver o que acontece...

    Abraços!

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    Respostas
    1. Obrigado pela acolhida! Nunca esqueça: "navegar é preciso..."

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