sexta-feira, 13 de julho de 2012

Deus e o diabo na terra do Rock


"A Lei do Inferno diz que o Inferno é exclusivamente reservado para aqueles que acreditam nele. Mais adiante, o mais profundo Círculo do Inferno é reservado àqueles que acreditam nele na suposição que eles irão para lá se não acreditarem."
Malaclypse, o Mais Jovem


Antes de mais nada, gostaria de fazer um esclarecimento a respeito do meu recém-nascido (mas ainda não batizado) blogue. Antes de ser crucificado, desejo que atentem para a episteme do vocábulo: “anarquismo” (do grego ἀναρχος) significa "sem governantes". Na definição do nosso conhecido dicionário, “anarquia é uma filosofia política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de governo compulsório. De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceita e, assim, preconizam os tipos de organizações libertárias baseadas na livre associação”. Portanto, para os desinformados, anarquia significa ausência de coerção e não a ausência de ordem (bem que poderia ser os dois...). Agora sim, podem continuar.

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Desde que esse ritmo estranho chamado rock and roll começou a fazer mais sucesso do que deveria, problemas diversos surgiram em relação a seu respeito. Vamos a um exemplo. Tem sempre aquele ser humano esclarecido que tende a associá-lo ao diabo. Ou porco sujo. Ou anjo caído. Demônio, satanás, rabudo, cão-tinhoso, lúcifer... (se quiseres mais sinônimos, leia a bíblia). Seus argumentos, por sinal, são bem plausíveis. Alguns dizem: “o rock de uma maneira geral prega a rebeldia contra os costumes pregados e ataca o sistema vigente, incluindo a religião”. Outros afirmam: “o rock prega o hedonismo, o gozo máximo dos prazeres terrenos, o que é contrario a pregação das igrejas cristãs”; Há quem diga também: “o rock prega o individualismo. A vontade própria acima da vontade da maioria”. Que coisa...

Com relação ao individualismo, este é um ponto fundamental das seitas satanistas (e capitalistas), sendo inclusive o resumo do pensamento do mago, hedonista, crítico social e usuário recreacional de drogas Aleister Crowley: "Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei". (tudo está fazendo sentido agora, não?). Porém, em sua célebre obra O Livro da Lei, Mr. Crowley nos mostra, entre outras coisas, que a liberdade por si só não funciona. Deve sim estar intimamente ligada ao conhecimento: “O tolo bebe, e se embebeda; o covarde não bebe; o homem sábio, bravo e livre, bebe, e dá glórias ao Mais Alto Deus” (neste caso, o homem sábio é o padre! Sempre soube disso...). Ora pois: será mesmo que Aleister Crowley faz parte da bibliografia básica do curso de teologia? Ou será que os rockeiros estão a serviço de instituições religiosas e não sabem? Minha professora diria que isso daria uma boa dissertação de mestrado.

Vivemos em uma época em que muitas religiões e seus líderes estão permitindo que o rock entre nas igrejas (vejam só), afirmando que ele está santificado pois as letras foram modificadas e incluem palavras religiosas. Contudo, dizem os mais conservadores que o simples fato de essa música “demoníaca” ter entrado na igreja é prova do declínio moral e espiritual que está afetando as igrejas atualmente. Há grupos religiosos que atribuem ao diabo um “talento musical excepcional” e afirmam que ele o usa para enganar e escravizar. Das duas uma: ou Deus é mesmo muito indeciso em seus ensinamentos, ou nós que não entendemos direito.

O problema desse “não entendimento” é que  cada vez nascem mais profetas com sua própria lei, com sua própria verdade, com seu próprio conceito de certo e errado, com sua própria interpretação com o possível ensinamento do Todo-Poderoso. A conseqüência disso é a desunião dos povos, cada vez mais e mais (algo bem visível hoje), cada um achando que está com a razão, necessitando converter o outro por meios pacíficos, ou não. O fato é que uma música que fala sobre satanismo (como a de algumas famosas bandas de rock) pode ser apenas uma expressão artística, como um filme de terror ou uma pintura de Debret. Mais ainda: essa canção não necessariamente precisa ser um rock. Quem sabe um samba falando do demo ou um sertanejo universitário (esse sim é do mal por si só) não viria a calhar. A abordagem de temas que chocam a sociedade é simplesmente uma forma de rebeldia, nada mais.

Portanto, senhores, usem e abusem do rock and roll! Toquem em suas sinagogas, templos ou becos. Não importa onde nem quando. Louvem aos seus deuses, aos santos, aos anjos (inclusive o rebelde, aquele). Sem julgamentos morais, nem éticos, nem nada. Assim seja.


Um comentário:

  1. Na verdade, existe a possibilidade de que Deus seja o Diabo, e que o Diabo seja Deus (tentando nos enganar por meio de milhares de igreajs).
    Faria sentido...
    Mas sobre o rock, o que mais incomoda é que o rock é mais humano do que deveria ser. Tá cheio de gente idealizando o ser humano, achando que a gente deveria cagar flores... para esses o rock incomoda, é melhor cantar aleluia e glorificar as "coisas de Deus" seja lá o que isso quer dizer...

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