"A Lei do Inferno diz que o Inferno é exclusivamente reservado para aqueles que acreditam nele. Mais adiante, o mais profundo Círculo do Inferno é reservado àqueles que acreditam nele na suposição que eles irão para lá se não acreditarem."
Malaclypse, o Mais Jovem
Antes de mais
nada, gostaria de fazer um esclarecimento a respeito do meu recém-nascido (mas
ainda não batizado) blogue. Antes de ser crucificado, desejo que atentem para a
episteme do vocábulo: “anarquismo” (do grego ἀναρχος) significa "sem
governantes". Na definição do nosso conhecido dicionário, “anarquia é uma
filosofia política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a
eliminação total de todas as formas de governo compulsório. De um modo geral,
anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja
livremente aceita e, assim, preconizam os tipos de organizações libertárias
baseadas na livre associação”.
Portanto, para os desinformados, anarquia significa ausência de coerção e não a
ausência de ordem (bem que poderia ser os dois...). Agora sim, podem continuar.
***
Desde que esse
ritmo estranho chamado rock and roll
começou a fazer mais sucesso do que deveria, problemas diversos surgiram em
relação a seu respeito. Vamos a um exemplo. Tem sempre aquele ser humano
esclarecido que tende a associá-lo ao diabo. Ou porco sujo. Ou anjo caído.
Demônio, satanás, rabudo, cão-tinhoso, lúcifer... (se quiseres mais sinônimos,
leia a bíblia). Seus argumentos, por sinal, são bem plausíveis. Alguns dizem: “o
rock de uma maneira geral prega a rebeldia contra os costumes pregados e ataca
o sistema vigente, incluindo a religião”. Outros afirmam: “o rock prega o
hedonismo, o gozo máximo dos prazeres terrenos, o que é contrario a pregação
das igrejas cristãs”; Há quem diga também: “o rock prega o individualismo. A
vontade própria acima da vontade da maioria”. Que coisa...
Com relação ao
individualismo, este é um ponto fundamental das seitas satanistas (e
capitalistas), sendo inclusive o resumo do pensamento do mago, hedonista, crítico
social e usuário recreacional de drogas Aleister Crowley: "Faz o que tu
queres, há de ser tudo da lei". (tudo está fazendo sentido agora, não?). Porém,
em sua célebre obra O Livro da Lei,
Mr. Crowley nos mostra, entre outras coisas, que a liberdade por si só não funciona.
Deve sim estar intimamente ligada ao conhecimento: “O tolo bebe, e se embebeda;
o covarde não bebe; o homem sábio, bravo e livre, bebe, e dá glórias ao Mais
Alto Deus” (neste caso, o homem sábio é o padre! Sempre soube disso...). Ora
pois: será mesmo que Aleister Crowley faz parte da bibliografia básica do curso
de teologia? Ou será que os rockeiros estão a serviço de instituições
religiosas e não sabem? Minha professora diria que isso daria uma boa
dissertação de mestrado.
Vivemos em uma
época em que muitas religiões e seus líderes estão permitindo que o rock entre
nas igrejas (vejam só), afirmando que ele está santificado pois as letras foram
modificadas e incluem palavras religiosas. Contudo, dizem os mais conservadores
que o simples fato de essa música “demoníaca” ter entrado na igreja é prova do
declínio moral e espiritual que está afetando as igrejas atualmente. Há grupos
religiosos que atribuem ao diabo um “talento musical excepcional” e afirmam que
ele o usa para enganar e escravizar. Das duas uma: ou Deus é mesmo muito
indeciso em seus ensinamentos, ou nós que não entendemos direito.
O problema
desse “não entendimento” é que cada vez
nascem mais profetas com sua própria lei, com sua própria verdade, com seu
próprio conceito de certo e errado, com sua própria interpretação com o
possível ensinamento do Todo-Poderoso. A conseqüência disso é a desunião dos
povos, cada vez mais e mais (algo bem visível hoje), cada um achando que está
com a razão, necessitando converter o outro por meios pacíficos, ou não. O fato
é que uma música que fala sobre satanismo (como a de algumas famosas bandas de rock) pode ser apenas uma expressão
artística, como um filme de terror ou uma pintura de Debret. Mais ainda: essa canção não
necessariamente precisa ser um rock. Quem sabe um samba falando do demo ou um sertanejo universitário (esse sim é do mal por si só) não viria a calhar. A abordagem
de temas que chocam a sociedade é simplesmente uma forma de rebeldia, nada
mais.
Portanto, senhores, usem e abusem do rock and roll! Toquem em suas
sinagogas, templos ou becos. Não importa onde nem quando. Louvem aos seus
deuses, aos santos, aos anjos (inclusive o rebelde, aquele). Sem julgamentos morais,
nem éticos, nem nada. Assim seja.
Na verdade, existe a possibilidade de que Deus seja o Diabo, e que o Diabo seja Deus (tentando nos enganar por meio de milhares de igreajs).
ResponderExcluirFaria sentido...
Mas sobre o rock, o que mais incomoda é que o rock é mais humano do que deveria ser. Tá cheio de gente idealizando o ser humano, achando que a gente deveria cagar flores... para esses o rock incomoda, é melhor cantar aleluia e glorificar as "coisas de Deus" seja lá o que isso quer dizer...