quinta-feira, 19 de julho de 2012

O caminho da vida


“Vou te encontrar vestida de cetim/Pois em qualquer lugar esperas só por mim/E no teu beijo provar o gosto estranho/Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar/Vem, mas demore a chegar/Eu te detesto e amo morte/Que talvez seja o segredo desta vida.”
Raul Seixas

Morte. Quantos mistérios permeiam este inevitável acontecimento. Quantas pessoas ficam confusas e temerosas ao pensarem que dela ninguém pode escapar. Para alguns, o fim de tudo. Para outros, apenas o começo. Há também aqueles que a colocam nas mãos do destino, relacionando-a a uma ordem cósmica, onde nada nem ninguém podem alterá-la. “Morrer! Vira essa boca pra lá!”, dizem os mais medrosos.“Eu não tenho medo da morte”, professam os corajosos. Passagem para o além? Passagem pra lugar nenhum? Vai saber...

Segundo a mitologia grega (outra vez flores?), Tanatos é a personificação da morte. Inimigo do gênero humano, odioso mesmo aos deuses, Tanatos morava no Tártaro (espécie de terceiro andar, de cima pra baixo, em relação à Terra) e teria coração de ferro e entranhas de bronze. Os gregos representavam-no com o rosto desfeito e emagrecido, coberto por um véu, os olhos fechados e com uma foice na mão. Em Roma, Tanatos era chamado de Orco (daí a expressão “Orco Cane”), sendo provável que encarnasse a divindade infernal que castigava os perjuros, ou até mesmo que fosse uma primitiva divindade romana identificada mais tarde como Plutão. Era uma espécie de anjo da morte que assassinava os moribundos, supondo-se que o dia do seu aniversário, o quinto de cada mês, fosse infausto.

Ainda no campo mitológico (volta o cão arrependido...), o Destino é uma divindade cega, inexorável, filha da Noite (Nix) e do Caos. Os céus, a terra, o mar, os infernos, tudo fazia parte do seu império. Destino era por si mesmo a personificação da fatalidade, segundo a qual tudo acontecia no mundo. Todas as outras divindades estavam submetidas ao seu poder. Nem mesmo Zeus, o mais poderoso dos deuses, pôde aplacar Destino, nem a favor dos outros deuses, nem a favor dos homens. O que Destino resolvia, era irrevogável.

Acredito que muitos dos nossos temores em relação à morte podem ter relação muito próxima às divindades citadas acima, especialmente ao Destino. Ainda hoje há quem acredite que ele é que nos guia para tudo (lavar a louça, comer polenta, essas coisas...). Porém, se jogarmos nossas fichas no Destino, penso que é uma má escolha (só uma opinião). Sendo ele uma divindade cega, só mesmo nós, humanos ultra evoluídos, para confiar ao Destino tudo que se passa por aqui. Colocar em um ser sem glóbulos oculares a responsabilidade de decidir quando devemos atravessar o caminho da vida para a morte é, no mínimo, desinteligência. Para aqueles que, ainda assim, mantém sua fé e continuam sendo seus fiéis seguidores, recomendo canalizar uma parte de suas orações a ele, Destino, pois Zeus já deixou bem claro que nos assuntos do “inexorável imperador”, ele não mete a colher.

E quanto a Tanatos? Estamos preparados para sua chegada? Estamos prontos para o seu golpe derradeiro? Eu diria que não estamos preparados nem para viver... Contudo, acho que para a morte o preparo não é necessário. Essa é uma questão irrelevante. Para os temerosos, deixo aqui minha receita para afastar este medo: morra sem ter tempo para pensar no assunto. Exatamente o contrário do que estamos fazendo agora. Quer trocar de assunto?

De consolo, fiquemos com algumas palavras de Freud, dias antes de partir: “Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos em vida.” Nada mal.


2 comentários:

  1. As pessoas se preocupam com morte, porque ela é a única coisa desse mundo que elas ainda não puderam controlar, subornar ou passar a perna. Nem vender voto.
    Depois que elas pegarem a manha e aprenderem a fazer isso,(o Goku conseguiu, certo?), elas vão relaxar xD haha

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  2. Ninguém conhece ou sabe certo o que vai acontecer. Mas no fim das contas ninguém quer morrer. Deixar tudo aqui na terra, e sabe-se lá ir pra onde (para quem acredita) ou virar pó. Nenhuma pessoa voltou para dizer o que se passa, certo? hehe. Mas se descobrirem como controlar isso certamente o sistema não iria deixar (ou não).

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